Modos Sensoriais 1
3.1 - O VER IDEAL
Vamos novamente pensar juntos: o animal que prefere VER deve ter um modo de olhar diferente do que prefere SER VISTO.
Coloque-se diante dos seus dois meninos* e experimente vê-los, mantendo os olhos numa única posição, fixos. É possível dessa forma enxergar ambos de modo adequado? Óbviamente que não! Para vê-los bem, primeiro terá que VER um e depois outro: ver um elemento do ambiente por vez. Olhe para uma das paredes da sala de sua casa e experimente VÊ-LA. Terá que seccioná-la em partes (de cima, de baixo, lados direito, esquerdo),...e olhar uma por vez.
Olhe para o rosto de sua filha e tente vê-lo realmente. Terá que parti-lo, como que seccioná-lo, por exemplo, em duas metades ... e olhar uma por vez, em seguida 'cortar' cada qual em outras e assim por diante. Isto é VER. E com o OUVIR se dá o mesmo.
Caso se aprofunde na fenomenologia desses dois verbos, concluirá que o ato de OUVIR também é partidor: ouve-se melhor a um elemento por vez. Para o conhecimento Antigo, esta modalidade de visão/audição, PARTIDORA, é a ideal. Ela é praticada pelos animais de libido VO (os que dependem da visão e audição para sobreviver!), pelo GATO e seus parentes sensoriais.
*imagine-se, internauta, com três filhos: dois meninos e uma menina.
3.2 O GATO E A MOSCA
Observe o bigode na cozinha: ao perceber uma mosca voando, ele parte, como que esquadrinha o espaço em setores e para os olhos e ouvidos diante de um por um. As paradas se sucedem e em cada qual ele vê e ouve, até que num dos quadros pega a mosca!
AVES, felinos e equinos praticam o mesmo tipo de visão/audição: por etapas, descontínua. Apesar das diferenças em seus aparelhos audiovisuais, o mecanismo 'partidor' é comum aos três. Olhos e ouvidos se atraem sucessivamente para as partes de um todo. Eles param aqui, depois ali, ... em seguida acolá e ao fazê-lo seccionam, 'cortam' o ambiente, destacando a parte vista, das demais. É a visão tipo-AVE, a que se desloca parando. Já a dos RÉPTEIS, caninos e bovinos é diferente. Não se atrai para as partes, mas pelo próprio todo e por isso tem dificuldade em 'partir' um cenário, esquadrinhá-lo. Observe o cachorro perseguindo a mesma mosca: seus olhos e ouvidos preferem se deslocar de modo contínuo – sem parar ou parando o mínimo – e assim não seccionam audiovisualmente o espaço ou o fazem de modo ineficiente, o que dificulta apanhar insetos voando! É a visão tipo-RÉPTIL, a que prefere se deslocar sem parar.
3.3 - COMPREENDENDO OS OLHARES
O do gato sendo 'partidor', diminui o espaço em que a mosca ao voar se enquadra e quando por algum motivo ela concentra o vôo numa determinada área, a visão felina incrementa a 'partição'(parte, reparte encima...), o que torna a captura praticamente inevitável. O cachorro, por seu lado, prefere deslocar os olhos sem parar. De início até que ele tenta! Com a intenção de identificar o objeto voador, pára o olhar num ponto, depois noutro, porém logo, logo desiste. Como seus olhos não se satisfazem em detectar partes, ele os abandona e se entrega ao olfato. Daí sim, se a mosca ainda estiver por perto, o que nem sempre acontece, há chance de apanhá-la!
3.4 - VALE MARTELAR
Independentemente das diferenças em seus órgãos visuais e auditivos , aves, gatos e cavalos vêem os elementos do ambiente do mesmo modo 'partidor', sequencial e diferenciador. Seus olhos se fixam aqui, depois ali, em seguida acolá ... É esta linguagem que lhes garante eficiência visual elementar (primária). Vide a visão equina. Ela não tem a qualidade da felina, muito menos das aves, porém, igualmente a estas, vê 'por partes', destacando sequencialmente cada elemento do ambiente, o que explica, por exemplo, a eficiência do CAVALO em provas equestres onde a visão elementar é necessária. Já répteis, bois e cachorros têm em comum o olhar 'totalizador'. Tendem a varrer com os olhos, o maior número de elementos do ambiente. Esse tipo de visão, descompromissada da parte e entregue ao todo é comum aos três.
3.5 - ADENDO
Ao contrário do olhar FELINO, analítico, que diferencia, separa, contrasta os elementos do ambiente, o tipo CANINO os iguala, reúne, integra, em outras palavras, simplifica o ato de VER. A visão é sintética. Observe o seu cachorro diante de muitos elementos. Na ausência de estímulos específicos ele tende a deslizar o olhar por todos, considerando nenhum mais importante que o outro, ... IGUALANDO os elementos do ambiente.
3.6 - RESUMINDO
No esquema sugerido pelo conhecimento Antigo, há dois modos de olhar: o que se atrai para a PARTE (tipo-AVE, como o dos gatos e cavalos) e o que se atrai para o TODO (tipo-RÉPTIL, como o dos cachorros e bois).
Amigo internauta, e os seus olhos de mamífero? Eles têm preferência por um dos dois modos, dedicam - se igualmente a ambos, ou a pergunta não tem sentido ? Como a auto-percepção do modo de olhar, no aspecto dual em foco (para a PARTE - para o TODO), deve ser um assunto novo para você, é improvável que tenha condições de responder de pronto. A vivência a seguir é para isso...
3.7 - "O ALMOÇO DE DOMINGO"
Investigue o desejo dos seus olhos ao entrar na casa dos pais, onde a família reunida o espera para o almoço de domingo. Aberta a porta, como eles se comportam? Querem captar o cenário por inteiro, de uma vez, ou preferem que o ambiente se revele aos poucos, de parte em parte?
Ao visualizar a sala cheia, você é capaz - como um CACHORRO - de distribuir ainda da soleira da porta, aquele olhar rápido e amplo, tipo 'leitura dinâmica', que desliza pelo ambiente, envolvendo a todos os presentes... ou o seu olhar - como o de um GATO - evita o todo e procura a parte, atraindo-se para alguma particularidade, quer seja o primeiro parente que vê, a roupa que um veste, um detalhe do ambiente. Como é o seu olhar?
3.8 - AINDA "O ALMOÇO"
Se no mesmo evento, enquanto você está conversando com uma sobrinha, um outro familiar passa por trás da interlocutora, os seus olhos preferem se manter atentos à pessoa com quem fala, ou tendem, por segundos que seja, a acompanhar quem passa? Traduzindo: eles se contentam com uma pessoa por vez ou uma é pouco, são do mais de uma, do todo?
Amigo-internauta, evite intelectualizar o experimento. Ele é simples. Restrinja-se ao desejo dos seus olhos: é para um ou para mais de um?
3.9 - INSTINTO E APRENDIZAGEM
Ao explorar a vivência "O ALMOÇO DE DOMINGO" é essencial se concentrar no desejo dos seus olhos, deles em si, independentemente das influências que atuam ou tenham atuado sobre eles. Exemplo: pode ser que quando criança você ajudava o seu pai - um botânico - a coletar e classificar orquídeas! É natural que exercendo essa atividade, os seus olhos aprenderam a diferenciar, a comparar, a partir, ... a ver as orquídeas uma a uma, cada qual na sua vez. Pois desconsidere este fato e atenha-se ao desejo deles como se não tivessem tido este aprendizado ...
De manhãzinha, ao entrar na estufa de flores, o ímpeto inicial dos seus olhos é buscar uma orquídea, que seja esta aqui, depois se deter num detalhe daquela ali, em seguida parar numa outra lá, ... ou antes de se dedicar a particularizá-las, o seu ímpeto visual é curtir a liberdade de não se deter em nenhuma, é deslizar o olhar por todas ,como se as unisse num grande arranjo floral?
Em suma, o prazer dos seus olhos está ligado à sensação de UNIR ou à de SEPARAR os elementos que vê?
3.10 - A "EXPERIÊNCIA - CHAVE"
Escolha um ambiente amplo, como o jardim de sua casa ou a sala de estar do seu apartamento e posicione-se sentado em uma cadeira, de frente para este cenário. Em seguida feche os olhos e desloque a face até um dos extremos do ambiente (por exemplo, o esquerdo) . Agora abra-os e a mova lentamente em direção ao extremo oposto, realizando um percurso de 180º.
De que modo os seus olhos se comportam neste trajeto? Tendem a parar em peculiaridades, quaisquer que sejam, coisas ou pessoas, ou preferem se deslocar sem parar?
3.11 - AINDA "A CHAVE"
Repita-a o mais que puder e a cada vez procure se aprofundar na LIBIDO dos seus olhos: ao deslocar a face no giro de 180º, eles são como que levados a parar aqui, depois ali, em seguida acolá, isto é, atraem-se sucessivamente para 'partes', pormenores, e ao fazê-lo 'seccionam' o ambiente, separando os seus elementos ... ou seus olhos preferem 'seguir adiante', levados pelo ímpeto de reunir - de totalizar - o que vêem?
OLHAR 'PARTIDOR' -- OLHAR 'TOTALIZADOR
Atenção! Se no cenário escolhido houver um 'bolo de chocolate com amêndoas', a experiência não vale! Opte, portanto, por ambientes sem estímulos preferenciais.
3.12 - ZEN
Observe os olhares do GATO e do CAVALO. São sérios, responsáveis, ... olhares de trabalho! Os músculos da face em repouso, afinal qualquer movimento supérfluo prejudica o desempenho dos olhos e ouvidos. E outra característica já citada: a boca fechada. Essa constatação é importante. Não se vê, nem se ouve, de boca aberta! Apesar do Zen não ser dado a explicações em excesso, o motivo é simples: ao se abrir a boca, os olhos e ouvidos são pressionados pelas bochechas, o que diminui o potencial do VER/OUVIR e aumenta o do SER VISTO/OUVIDO.
Ao girar a face na EXPERIÊNCIA-CHAVE, a sua boca, como a de um FELINO, de um EQUINO, tende a fechar ...ou o desejo dos seus lábios, como os dos CANINOS e BOVINOS, é se entreabrirem?!
3.13 - INTERVALO
Antes de na próxima PARTE nos dedicarmos aos sentidos do TATO e FONAÇÃO (aos modos de tatear e sonorizar), vamos repisar o dito sobre o OLFATO ...
3.14 - E NÓS HUMANOS?
É certo que não temos o faro tão potente e intenso como o dos animais, mas quanto ao prazer, ... como o seu corpo se comporta em relação aos odores? Ele tende a se aproximar ou se distanciar da fonte do cheiro ?! O corpo que vê tende a se distanciar,...e o que se faz visto, a se aproximar. Em qual das duas condutas linguísticas o seu se enquadra?
Você tem o hábito de cheirar, por exemplo, suas unhas, como que 'entrando nelas', penetrando no odor, ... ou o seu modo de cheirar é discreto, cuidadoso, tipo 'um pé atrás'? Em suma, você está mais para CACHORRO, para BOI ... ou para CAVALO e GATO ?!